quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Paulo Bomfim relata encontro com Monteiro Lobato

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Em crônica exclusiva para a coluna Passeios da Memória, que foi ar no último dia 14 de novembro pela Rádio Cultura FM 103,3 de São Paulo, o poeta e jornalista Paulo Bomfim, membro da Academia Paulista de Letras, relatou um breve encontro com o escritor Monteiro Lobato. Nesse encontro,  que aconteceu em junho de 1948 na casa de Lobato, também estava presente, entre outros, o escritor pinhalense Edgard Cavalheiro, grande amigo e biógrafo de Monteiro Lobato.

Para ouvir a crônica "Lobato" basta acessar o site oficial do escritor Paulo Bomfim clicando aqui.

Paulo Bomfim
Paulo Bomfim nasceu em São Paulo em 1926 e iniciou curso na Faculdade de Direito de São Paulo, por volta de 1946, mas não chegou a completá-lo. Na época trabalhava como colaborador dos jornais Correio Paulistano, Diário de São Paulo e Diário de Notícias. Em 1946 ocorreu a publicação de seu primeiro livro de poesia, Antônio Triste, com o qual recebeu o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, em 1947. No ano seguinte participou do Primeiro Congresso Paulista de Poesia. Entre 1971 e 1973 foi curador da Fundação Padre Anchieta, diretor técnico do Conselho Estadual de Cultura de São Paulo e representante do Brasil nas comemorações do cinquentenário da Semana de Arte Moderna, em Portugal. Recebeu vários prêmios, entre eles o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, em 1982, concedido pela União Brasileira de Escritores. Em 2000 e 2001 publicou os livros de contos e crônicas Aquele Menino e O Caminheiro. Sua extensa obra poética inclui Relógio de Sol (1952), Armorial (1956), Tempo Reverso (1964), Calendário (1968), Praia de Sonetos (1981) e Súdito da Noite (1992). Sua poesia, vinculada à terceira geração do modernismo, tematiza com frequência a cidade de São Paulo, o que contribuiu para que Paulo Bonfim se tornasse um dos poetas mais populares do estado.

Material enviado pelo pesquisador pinhalense Silvio Tamaso d'Onofrio.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Discurso do escritor Luiz Ruffato na Feira de Frankfurt (2013)

Foto: Reprodução
“O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso. Não há como renunciar ao fato de habitar os limiares do século 21, de escrever em português, de viver em um território chamado Brasil. Fala-se em globalização, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, não para o trânsito das pessoas. Proclamar nossa singularidade é uma forma de resistir à tentativa autoritária de aplainar as diferenças.

O maior dilema do ser humano em todos os tempos tem sido exatamente esse, o de lidar com a dicotomia eu-outro. Porque, embora a afirmação de nossa subjetividade se verifique através do reconhecimento do outro –é a alteridade que nos confere o sentido de existir–, o outro é também aquele que pode nos aniquilar… E se a Humanidade se edifica neste movimento pendular entre agregação e dispersão, a história do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença.

Nascemos sob a égide do genocídio. Dos quatro milhões de índios que existiam em 1500, restam hoje cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades. Avoca-se sempre, como signo da tolerância nacional, a chamada democracia racial brasileira, mito corrente de que não teria havido dizimação, mas assimilação dos autóctones.

Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas – ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.

Até meados do século XIX, cinco milhões de africanos negros foram aprisionados e levados à força para o Brasil. Quando, em 1888, foi abolida a escravatura, não houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condições dignas aos ex-cativos. Assim, até hoje, 125 anos depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada à base da pirâmide social: raramente são vistos entre médicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, artistas plásticos, cineastas, jornalistas, escritores.

Invisível, acuada por baixos salários e destituída das prerrogativas primárias da cidadania –moradia, transporte, lazer, educação e saúde de qualidade–, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartável na engrenagem que movimenta a economia: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensação de não pertencimento: no Brasil, o que é de todos não é de ninguém…

Convivendo com uma terrível sensação de impunidade, já que a cadeia só funciona para quem não tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerância emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida à margem, não tem o estatuto de ser humano reconhecido pela sociedade, reage com relação ao outro recusando-lhe também esse estatuto. Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. E assim acumulamos nossos ódios –o semelhante torna-se o inimigo.

A taxa de homicídios no Brasil chega a 20 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, o que equivale a 37 mil pessoas mortas por ano, número três vezes maior que a média mundial. E quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas elétricas, segurança privada e vigilância eletrônica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos.

Machistas, ocupamos o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas. Covardes, em 2012 acumulamos mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. E é sabido que, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, esses números são sempre subestimados. 

Hipócritas, os casos de intolerância em relação à orientação sexual revelam, exemplarmente, a nossa natureza. O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade. 

E aqui tocamos num ponto nevrálgico: não é coincidência que a população carcerária brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instrução.

O sistema de ensino vem sendo ao longo da história um dos mecanismos mais eficazes de manutenção do abismo entre ricos e pobres. Ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais –ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.

A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhões de dólares, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.

Mas, temos avançado.

A maior vitória da minha geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas.

Infelizmente, no entanto, apesar de todos os esforços, é imenso o peso do nosso legado de 500 anos de desmandos. Continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.

Nós somos um país paradoxal.

Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo –amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.

Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos…

Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?

Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro –seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual– como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora.”

Luiz Ruffato - Frankfurt, 08 de outubro de 2013

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Convite de Confraternização

A Casa do Escritor Pinhalense "Edgard Cavalheiro", tem o prazer de convidar todos os seus membros  e amigos para a confraternização de fim de ano da instituição, que acontecerá no dia 27 de novembro de 2013, a partir das 20h, no prédio da Associação Cultural Antônio Benedicto Machado Florence (o antigo Casarão). Participe levando um prato de doce/salgado ou um refrigerante.
 
Venha confraternizar conosco, sua presença é muito importante!
 
Para mais informações envie um e-mail para casadoescritoredca@gmail.com

domingo, 24 de novembro de 2013

Historiadora mineira lança biografia do Comendador Montenegro

Em evento realizado em Espírito Santo do Pinhal na manhã de sábado, 23, a historiadora Sônia Maria de Freitas, doutora em História Social pela USP e autora de sete livros, participou do lançamento do livro Vida e Obra do Comendador Montenegro – Um Lousanense Visionário no Brasil, biografia do português João Elisario de Carvalho Montenegro (1824-1915), o Comendador Montenegro.

Organizado pelo UniPinhal e a Florestal Jequitibá, o evento ocorreu no prédio da Associação Cultural Antônio Benedicto Machado Florence (o antigo Casarão) e contou com a presença de autoridades, educadores, escritores e o público em geral. Durante todo o evento, que teve início com a apresentação musical do Coral Zequinha de Abreu, foi falado sobre a importância de Comendador Montenegro para Portugal, Brasil e principalmente Pinhal.

Nascido em Lousã, distrito de Coimbra, Comendador Montenegro chegou ao Brasil em 1867 e fundou em Espírito Santo do Pinhal a colônia Nova Louzã, no entanto ele marcou seu nome na história por possuir ideais a frente do seu tempo. Além de usar mão de obra livre e assalariada, quando o Brasil ainda vivia sob o regime da escravidão, Montenegro foi um dos responsáveis pela chegada da ferrovia à região de Nova Louzã, o que “barateou o custo do café, do transporte do café, de pessoas e de mercadorias”, explicou a historiadora em entrevista exclusiva.

Em relação ao motivo de pesquisar sobre a vida dessa importante figura, Sônia Maria de Freitas disse que descobriu a história de Comendador quando iniciou a pesquisa sobre os portugueses em São Paulo. “Percebi que a imigração portuguesa tinha sido muito pouco estudada”. “Como neta de portugueses, isso me incomodava bastante. Foi aí que comecei a estudar a imigração”, revelou. A historiadora ainda disse que sua pesquisa a trouxe para Espírito Santo do Pinhal, onde contou com o apoio de inúmeras pessoas e em 2011 organizou uma exposição sobre a vida do Comendador Montenegro.

Com o lançamento da obra, Sônia garante ter o sentimento de dever cumprido por estar “devolvendo pra cidade a sua memória e sua história”. Além disso, a historiadora revelou que continuará estudando a imigração da Lousã para o Brasil e que talvez esse seja seu projeto em nível de pós-doutorado.

Por fim, ao ser questionada sobre a polêmica em meio as publicações de biografias, Sônia disse ser “totalmente contra qualquer proibição”, pois “todo mundo tem uma curiosidade, uma necessidade de saber um pouco da história de pessoas que deram certo”. Ela ainda disse acreditar que o Supremo Tribunal Federal dará “um parecer favorável para que seja liberada a publicação das biografias”.

Ainda durante o evento, que contou com um coquetel e a declamação de poesias, Sônia Maria de Freitas pediu que todos lutassem para preservar a memória do Comendador Montenegro, assim como de seu túmulo. Ela ainda se declarou pinhalense de coração.

O livro Vida e Obra do Comendador Montenegro será lançado em Lousã, terra do Comendador Montenegro, no próximo mês de abril.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Lançamento do livro "Vida e Obra do Comendador Montenegro"

Acontece no próximo sábado, 23, no prédio da Associação Cultural Antônio Benedicto Machado Florence (o antigo Casarão), o lançamento do livro Vida e Obra do Comendador Montenegro - Um Lousanense visionário no Brasil, de autoria da historiadora Sônia Maria de Freitas. O evento, organizado pela UniPinhal e Florestal Jequitibá, acontece a partir das 10h.

Em seu sétimo livro, a historiadora descreve a trajetória de João Elisário de Carvalho Montenegro (1824-1915), português natural de Lousã, distrito de Coimbra, que chegou ao Brasil em 1867 e fundou em Espírito Santo do Pinhal a fazenda (atualmente bairro) Nova Louzã, onde posteriormente nasceu e cresceu o escritor Edgard Cavalheiro.

Comendador Montenegro, como ficou conhecido, marcou seu nome por possuir ideais incomuns para a época, como, por exemplo, ao usar mão de obra livre e assalariada em uma época em que ainda estava em vigor a escravatura no Brasil. Montenegro também foi o responsável pelo movimento que garantiu a chegada da ferrovia na região de Espírito Santo do Pinhal, além de ter contribuído para inúmeras obras em sua terra natal.

Além do evento de lançamento que acontece no próximo sábado, a autora também já participou de um evento em São Paulo e deve lançar a obra na Biblioteca Municipal Comendador Montenegro, em Lousã, Portugal.

Corria o ano de 1867, quando em 6 de fevereiro o imigrante português João Elisário de Carvalho Montenegro trouxe 29 pessoas de sua terra natal para fundar a Colônia Nova Louzã, nas proximidades de Espírito Santo do Pinhal-SP. Nascido na Vila da Lousã, Distrito de Coimbra, Portugal, Montenegro inovou usando exclusivamente mão de obra livre e assalariada na sua fazenda, no tempo em que o trabalho escravo e o sistema de parceria eram predominantes nas relações de trabalho no Brasil.
Homem de ampla visão, com ideias democráticas e humanistas muito avançadas para a época, fez da abolição da escravatura, da imigração e do trabalho livre e assalariado, suas principais bandeiras de luta. Apesar da resistência de alguns, sua experiência iria influenciar outros fazendeiros, contribuindo para o fim do regime escravocrata no Brasil e a vinda de mais de 3 milhões de imigrantes para São Paulo, principalmente para trabalhar na cafeicultura.
Montenegro foi pioneiro também em outras iniciativas: lançou o movimento para que a ferrovia chegasse à região de Espírito Santo do Pinhal, cuja construção facilitou e barateou o custo de transporte do café, de mercadorias, além de pessoas e ideias.
Em sua terra natal, o Comendador Montenegro participou da fundação do Hospital de São João, do Instituto D. Luís I e da primeira biblioteca pública. No Brasil, colaborou com grande soma de dinheiro para a construção do primeiro prédio da Beneficência Portuguesa de São Paulo, além do Hospital Francisco Rosas, da Santa Casa de Misericórdia de Pinhal.
A historiadora Sônia Maria de Freitas, em seu sétimo livro, Vida e Obra do Comendador Montenegro: Um Lousanense Visionário no Brasil, descreve a trajetória desse formidável português. A obra resulta de uma ampla pesquisa realizada em coleções particulares, arquivos e bibliotecas portuguesas e brasileiras. Em suas 200 páginas, a obra inclui rica documentação histórica, 120 fotografias de época, além de gráficos e tabelas.
No prefácio, o historiador Roberto Vasconcelos Martins salienta que "faltava ainda um trabalho biográfico de peso que viesse preencher essa lacuna e fazer justiça a um ser cuja existência jamais poderia cair no esquecimento (... a autora) com a sua coragem e determinação deixará para a posteridade uma obra admirável que muito honrará aos brasileiros e portugueses" - (Polo Printer, 2013).

Sônia Maria de Freitas
Doutora em História Social pela USP, Sonia atuou como pesquisadora e curadora no Museu da Imagem e do Som e no Museu da Imigração, em São Paulo. É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Além de participar de obras coletivas, possui artigos em revistas científicas no Brasil e no exterior. Entre outros títulos, publicou História Oral: Possibilidades e Procedimentos (São Paulo, 2002), Café e Imigração (São Paulo, 2003), Presença Portuguesa em São Paulo (São Paulo, 2006); e Beneficência Portuguesa de São Paulo: Um Século e Meio Provendo Saúde (São Paulo, 2009).
Com a obra “Presença Portuguesa em São Paulo” editado pela Imprensa Oficial, recebeu prêmio da Academia Paulistana de História. Além de diploma pelos serviços prestados em prol da Comunidade Luso-Brasileira, pela Câmara Municipal de São Paulo e pelo Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo, e agraciada com medalha Comendador Pereira Queiroz pela Casa de Portugal de São Paulo, dentre várias outras homenagens e premiações.

Foto: Reprodução

domingo, 27 de outubro de 2013

UniPinhal reabre curso de Letras com palestra de Moacir Amâncio

O jornalista, escritor, tradutor, crítico literário e professor de Literatura Hebraica da USP, Moacir Amâncio, esteve em Espírito Santo do Pinhal na última sexta-feira, 25, participando de uma palestra no auditório da Biblioteca do UniPinhal (Centro Regional de Ensino Universitário de Espírito Santo do Pinhal).

Ganhador do Prêmio Jabuti em 1993, Amâncio voltou a sua terra natal, após participação durante a primeira Semana Edgard Cavalheiro, a convite da historiadora Valéria Torres, pró-reitora do UniPinhal. A intenção, segundo a própria historiadora, é divulgar a reabertura do curso de Letras, que volta para a universidade a partir de 2013. “O curso de Letras teve muita demanda no passado”, revelou Valéria na abertura da atividade, que aconteceu a partir das 20h.

Foto: Ricardo Biazotto
Com o tema “A Leitura, O Leitor e O Leiturista”, Moacir Amâncio abriu sua palestra contando como descobriu a existência dessa estranha palavra. Certa vez tocou a campainha de sua casa e, ao abrir a porta, se deparou com um funcionário de uma empresa de saneamento básico que estava ali para fazer a leitura do consumo. Ao olhar para o crachá do funcionário, o escritor reparou a função que esse exercia: leiturista. Após isso passou a refletir sobre a palavra por vários dias, até chegar a uma conclusão sobre o significado do chamado leiturista, que não está apenas nas empresas de água e luz.

Para o escritor, raramente nos encontramos com o leiturista, que é apenas uma peça, e como “o homem não é mais um leitor”, está apenas produzindo números. Ao explicar sua teoria, Moacir Amâncio contou que, durante sua infância e adolescência, lia de tudo e até colecionava o suplemento literário do “A Folha”, extinto jornal da cidade, mas que atualmente muitos leitores não entendem os textos considerados complicados.

Na sequência, ainda comentando sobre os textos complicados, Amâncio relembrou casos de adaptações de obras conhecidas para tornar os textos mais fáceis e incentivar os mais jovens a terem o gosto pela leitura. Sendo contra tais adaptações, ele afirmou que “o fácil não precisa ser ensinado”.

Após uma abrangente explicação sobre o tema da palestra, houve ainda a leitura do texto “A Palavra Poética”, do escritor francês Roland Barthes e publicado no livro “O Grau Zero da Escrita”. Por fim, houve uma breve discussão sobre poemas de Oswald de Andrade, Giusseppe Ungaretti e Régis Bonvicino.

Para encerrar a atividade, a pró-reitora da universidade revelou seu desejo de organizar novos encontros, com outros escritores e também profissionais de outras áreas, possibilitando debates sobre inúmeros temas, sobretudo filosóficos, culturais e políticos.

O vestibular do UniPinhal, instituição com quase meio século de existência, acontece no próximo domingo, 03, e além do novo curso de Letras, terá ainda inúmeras outras novidades, incluindo o curso de Publicidade e Propaganda.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Palestra "A Leitura, O Leitor e O Leiturismo" com Moacir Amâncio

Foto: Reprodução
O escritor e jornalista pinhalense Moacir Amâncio, homenageado durante a primeira Semana Edgard Cavalheiro, estará novamente em Espírito Santo do Pinhal na próxima sexta-feira, 25, ministrando a palestra "A Leitura, O Leitor e O Leiturismo". A palestra acontecerá no auditório da Biblioteca da UniPinhal, a partir das 20h, e marcará a reabertura do curso de Letras, uma das novidades do vestibular que acontece nas próximas semanas.

Jornalista, ensaísta, poeta, professor e doutor em Língua Hebraica e Literatura Judaíca da Universidade de São Paulo, Moacir Amâncio nasceu em Espírito Santo do Pinhal em 1949. Publicou em importantes veículos, como a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, onde foi repórter, redator e editor. Autor e tradutor de inúmeros livros, Moacir foi o ganhador do Prêmio Jabuti em 1993.

O vestibular da UniPinhal acontece no próximo dia 03 de novembro. Para mais informações, acesse www.unipinhal.edu.br.

Confirme presença na palestra clicando aqui!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

7º Clube do Livro "Edgard Cavalheiro" - Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida)

Apesar de ter publicado um único livro, Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) eternizou seu nome na literatura nacional, sendo inclusive escolhido como patrono da Academia Brasileira de Letras. Carioca nascido nos primeiros anos do Império, Manuel cursou a faculdade de Medicina, porém jamais exerceu essa profissão. Sua verdadeira vocação era com as palavras e, trabalhando como redator do jornal Correio Mercantil, publicou anonimamente e no formato de folhetins o clássico Memórias de um Sargento de Milícias.

Martin Claret - 2012
Obra de grande importância por marcar a transição entre o romantismo e o realismo da literatura brasileira, Memórias de um Sargento de Milícias divide opiniões, mas jamais deixou de ter sua importância, por isso a escolha para o debate o 7º encontro do Clube do Livro "Edgard Cavalheiro".

Realizado na noite de 28 de setembro, no prédio da Associação Cultural Antônio Benedicto Machado Florence, o encontro procurou debater os temas e o estilo de escrita do autor, que por ter falecido precocemente, em um naufrágio que ocorreu em 1861, não teve outras obras publicadas que auxiliassem na caracterização de seu estilo.

Além do tema retratado por Manuel Antônio de Almeida em sua obra, muito se falou sobre a comparação com Memórias Póstumas de Brás Cubas, livro debatido no mês de julho, ainda que sejam estilos e escolas literárias diferentes. A fluidez da leitura, mesmo com palavras arcaicas e de difícil compreensão, também foi relevante ao longo do debate, que destacou a agradabilidade da leitura da obra e também alguns dos temas retratados no livro, como a rotina da população de classe baixa.

Ao fim do debate, os membros presentes decidiram que o próximo encontro do Clube do Livro será realizado na noite de 30 de novembro, pulando assim o mês de outubro devido ao início dos principais vestibulares do país. O oitavo encontro será também o último de 2013 e terá o tema livre.

Confirme presença no evento clicando aqui.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Escritor pinhalense participa da antologia Amores (Im)possíveis

O escritor pinhalense Ricardo Biazotto, membro da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, lança no próximo sábado, 19, em São Paulo, o livro “Amores (Im)possíveis – Contos de Amor”.

Organizado por Leandro Schulai e publicado pela Andross Editora, o livro conta com a participação de dezenas de autores de várias partes do país e será lançado no evento “Livros em Pauta – Encontro de Leitores com Escritores e Outros Profissionais do Livro”.

Com organização de Edson Rossatto, editor da Andross Editora, o evento “Livros em Pauta” acontecerá na Faculdade Estácio UniRadial (Campus Jabaquara) a partir das 10h. Além do lançamento de “Amores (Im)possíveis” e de outras antologias organizadas pela Andross Editora, o evento terá ainda palestras, debates e bate-papos com escritores, editores, blogueiros, críticos literários e outros profissionais do livro.

A expectativa dos organizadores é receber cerca de 1100 pessoas. Durante a programação do evento haverá um plantão para que os escritores amadores tirem dúvidas sobre todas as etapas para a publicação de uma obra, desde o registro até lançamento e divulgação.

Outra atividade importante é o chamado pitching, onde escritor e editor ficam em uma mesma sala para discutir sobre uma trama. “Na atividade pitching, o escritor que tiver uma história na gaveta esperando para ser publicada poderá ter esse seu sonho realizado”. “Se o escritor conseguir convencer o editor de que sua história é boa mesmo, o autor poderá sair do evento com seu livro já engatilhado para publicação", explica Edson Rossatto.

Serviço:
Data: 19 de outubro de 2013
Horário: das 10h às 20h
Local: Faculdade Estácio UniRadial (Campus Jabaquara) Av Jabaquara, 1870 Saúde – São Paulo – SP (a apenas dois quarteirões da estação Saúde do metrô)
Informações: (11) 96731-6191 - (11) 98217-6191 - www.livrosempauta.com.br

Sinopse – Amores (Im)possíveis
Todos procuram um amor. Todos mesmo. Até os vilões, afinal, não existe amor ruim. Mas será que todos os amores são possíveis? Amores (im)possíveis traz a essência do amor em diversos contos, que retratam a alegria da conquista, o desespero da perda, o prazer em ser correspondido, a angústia em ser rejeitado... Afinal, existe sentimento mais controverso do que o amor?

“O amor sempre faz a sua parte e apresenta duas pessoas que poderiam ficar juntas, mas esquece de avisar as duas partes envolvidas. E se existe um culpado na história mais dolorosa de minha vida, este é o amor e talvez o destino” – Sentimentos Invernos (Ricardo Biazotto).

Ficha técnica:
Gênero: Contos/ Crônicas
Editora: Andross Editora
Ano: 2013 / 1ª Edição
Nº de páginas: 384 páginas
Preço: R$19,00 (no dia do lançamento)

sábado, 12 de outubro de 2013

Brilho nos Olhos

24 de abril de 2013

Com a alegria é fácil de aparecer,
Na tristeza fácil de notar,
Em uma luta presente ele está,
Transforma o semblante, basta olhar;

Mesmo nos animais diferencia a expressão,
Na caça a ser batida, nota-se no olhar do tremor,
No caçador, esse mesmo olhar é avassalador,
Capaz de petrificar e deixar a pobre presa, sem ação;

O brilho nos olhos, posso ver em uma criança: inocência,
Em um jovem: esperança,
No adulto: perseverança,
Na velhice: a sapiência;

Já nos meus olhos, esse brilho usual,
Não é um simples brilho sem razão,
É um reflexo com toda certeza e emoção,
O reflexo do brilho do coração,
Que vejo em cada olhar seu,
Que simplesmente reflete ao meu,
O brilho em meu olhar que é o puro reflexo do seu...

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Reino da Copa

03 de abril de 2013

Em um mundo bem distante, havia um reino que comemorava sua escolha pra realização de uma copa dos mundos. Todos estavam extasiados pela escolha, e pela bela situação em que se encontravam as pessoas que naquele reino vivia. Até que certo dia, um garotinho resolve perguntar para seus pais o porquê de chamar-se copa dos mundos e não copa do mundo, pois o garotinho jamais conhecera outro mundo senão aquele. Seu pai então responde:

- Filho já está na hora de contar a você a verdade pois já está crescidinho.

"Você sempre viveu neste reino, com boa comida, boa escola, bons amigos, boa família, sem violência e sem drogas, onde todos são tratados igualmente, cujo nome desse nosso reino é Brasil. No entanto, existem outros reinos, e outros mundos, onde existe enchente, desigualdade, professores mau remunerados, alunos desinteressados, a droga dominando os jovens, e violência que aumenta assustadoramente."

"Mas estes mundos são distantes filho, e você não precisa se preocupar, pois aqui no Brasil não existe isso. E também aqui, para realização dessa copa, tudo corre perfeitamente em ordem, todos os locais são bem localizados, feitos com custos baixíssimos; e a população mora bem; temos perfeitas instalações e atendimento a saúde, educação; não temos corrupção. E é por esse motivo que fala-se em copa dos mundos, pois o Brasil é um mundo, e existem outros por ai."

"Aqui ainda temos os lucros com a organização desse evento divididos igualmente entre reis e rainhas e o povo brasileiro. Até ouvi ainda ontem um dos reis dizendo que a água no nordeste será ainda mais abundante. E é por isso, meu filho, que os outros mundos e reinos tem muita inveja da gente."

domingo, 6 de outubro de 2013

Geraldo Florence se encontra com Luís Fernando Veríssimo no 7º Festival de Literatura de São João del-Rei

Aconteceu entre os dias 25 e 28 de setembro, em São João del-Rei-MG, o 7º Festival de Literatura, que pela primeira vez ocorreu com desdobramento na cidade vizinha de Tiradentes.

Organizado pela Via Comunicação e a Quarteto Filmes, a edição de 2013 do evento contou com a participação de, entre outros, Márcia Tiburi, que participou do III Pin Pin de Literatura de Espírito Santo do Pinhal, e Paula Pimenta, fenômeno da atual literatura jovem do nosso país. Além disso, o evento homenageou o grande escritor Luís Fernando Veríssimo, conhecido por sua extensa obra e os inúmeros prêmios conquistados ao longo de sua carreira.

Visitando a cidade mineira para prestigiar o evento, o escritor pinhalense José Geraldo Motta Florence, membro da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, se encontrou com Veríssimo e aproveitou a reunião da última quarta-feira, 02, para contar um pouco sobre o 7º Festival de Literatura de São João del-Rei. Geraldo Florence ainda lembrou que já se encontrou com o escritor Fernando Veríssimo em três outras oportunidades, incluindo no Salão do Livro de Paris de 1998.

O escritor, juntamente com Martha Florence, disponibilizou algumas fotos do encontro, que foram divulgadas na fan-page do Departamento de Cultura de Espírito Santo do Pinhal:
Fotos: Reprodução/Facebook

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Confusão no Reino de Brasília

11 de maio de 2011

Novamente o congresso se reúne extraordinariamente para aprovação de mais uma lei imediata e urgente.

Claro que reunião extraordinária deve acontecer sempre motivada por assuntos de pertinência máxima em prol da sociedade, ou melhor; descobri agora que não é assim: pelo contrário, deve ter cunho extraordinário e urgente se for para o bem do reino. Pois o reino é o mais importante.

Ora, que absurdo e bobo pensamento eu tive, vejam: seria mais importante a vassalagem brasileira do que o reino de Brasília? Obviamente que não; explico: como pode ter mais urgência um médico em um posto de saúde, do que a aprovação dos salários mínimos dos dirigentes do reino de Brasília?

Realmente ocorre uma confusão nesse reino, pois os reis e rainhas do reino, juntamente com seus dirigentes sempre se confundem nesse aspecto: reunião extraordinária em caráter urgentíssimo, seria apenas para o bem do reino ou dos reis e rainhas?

Êpa! Pera ai! Como dirigente preciso de uma reunião extraordinária e urgente, pois também preciso ser beneficiado. Oras bolas, afinal tenho algumas centenas de bobos da corte para dar um pirulito.

domingo, 29 de setembro de 2013

Escritor Moacir Amâncio concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o jornalista e escritor pinhalense Moacir Amâncio, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Over Shock (Ricardo Biazotto)Moacir, para iniciar, fale um pouco sobre a peça “O Rei, o Rato e o Bufão do Rei”, sobre o autor, e o que motivou sua indicação para que a Companhia Viva Arte fizesse essa leitura dramática.
Moacir – Olha, Ricardo, são aqueles momentos: a gente sempre trabalha, a gente sempre atua movido pela inspiração, a gente pensa que a inspiração é uma coisa só... a inspiração está presente na nossa vida no dia a dia. E eu li essa peça, descobri o autor, e fiquei impressionado com ela, achei um ótimo texto, e muito importuno, porque ela foi escrita por um romeno, nasceu em 56 na Romênia, viveu sob a ditadura comunista lá, uma coisa horrível, como toda ditadura, mas conseguiu se exilar na França, e passou a escrever em francês. O que foi muito bom, porque o francês é uma língua universal, ele escreve muito bem, é um grande escritor.
E a peça fala sobre aquela história do poder e a loucura da história. Isso diz respeito a todos nós. A peça é um texto universal, e pelo que tem a sátira de humor, de crítica, permite uma reflexão sobre o poder, sobre a história, e também sobre o nosso comportamento particular, de cada um. Então é um texto muito rico, fiquei muito contente com aceitação da sugestão e com a realização do pessoal, que agora apresentou o trabalho deles.
A minha ideia é propor, com esse tipo de evento a eles, é trabalhar uma forma de divulgação do teatro, de um modo rápido, dinâmico, e sem custo, baixíssimo custo, ou seja, custo quase nenhum. É um intermediário entre a leitura particular privada do texto, e o espetáculo, que pode ser montado ou não. Mas o importante é que as ideias estejam circulando e sendo debatidas.
Eu gostei muito do que eles fizeram, talento, disposição, e curiosidade, tudo isso que move a arte, a vida, e a criatividade, sobretudo.

Over Shock (Ricardo Biazotto)No terceiro Pin Pin de Literatura, o poeta João Batista Rozon foi homenageado e dessa vez, na primeira Semana Edgard Cavalheiro, foi a vez de o senhor ser homenageado. Gostaria que você comentasse um pouco sobre essa homenagem, o que o senhor sentiu, já que no final do ano passado, quando foi lançado o “Gol de Esquerda” em Pinhal, o senhor também recebeu uma homenagem, ainda que mais simples. Gostaria que o senhor comentasse sobre isso.
Moacir – Eu nunca acho que eu mereço homenagem nenhuma. Claro, não é falsa modéstia, simplesmente isso. A homenagem ela se torna significativa quando ela é vem com emoção, vem com uma sensibilidade, vem com uma sutileza, como aconteceu aqui agora. Sabe, memória, amigos de infância que lembram coisas, então eu fiquei muito tocado, porque foi feita uma pesquisa pela professora Valéria que descobriu o meu passado condenável de estudante na Escolinha de Comércio, e até, sei lá, só faltou pegar o meu boletim no Batista Novaes, que esse é mais vergonhoso ainda.
Então, claro, eu tô brincando também, mas foi muito tocante, sabe, a pessoa fazer uma coisa muito delicada, e eu gostei muito das palavras do João Rozon também, somos amigos já de bastante tempo, né? É uma coisa boa!

Over Shock (Ricardo Biazotto)Em relação ao prêmio Edgard Cavalheiro, o senhor acha que é uma forma importante de divulgar o nome do Edgard e também da cidade de Pinhal?
Moacir – Não tenho dúvidas quanto a isso. É importante sim, e sim, eu vou falar de homenagem, é uma homenagem justa, é uma figura muito importante, e é realmente um cara bacana, que deve ser lembrado sim. Normalmente a tendência, ainda mais hoje que a literatura é uma coisa que começa a ficar sempre de lado, pra escanteio, é preciso batalhar muito pra que se preserve os nomes dos autores, mas antes dos nomes dos autores, é preciso que se crie, crie modos de incentivar a leitura, e fazer com que a leitura ela volte a fazer parte, de uma certa forma, do dia a dia das pessoas. Esse é o objetivo. A literatura não escrita pra alguns intelectuais, agentes especializados. Não!
A literatura, ela é escrita, a poesia, o romance, o conto, pra todo mundo. Então, todo trabalho, toda promoção, toda iniciativa que se volte para a divulgação da cultura, a divulgação da leitura, do pensamento, e das ideias, e o debate delas, é importante, e deve ser levado em frente, com maior garra, com maior atenção, maior cuidado e responsabilidade.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Pra encerrar gostaria que o senhor comentasse sobre a sua visão em relação a primeira Semana Edgard Cavalheiro e também as expectativas para as próximas edições.
Moacir – Olha, eu acompanhei, não toda, eu acompanhei a programação, eu achei muito legal, muita boa, os nomes que estiveram, o Cadão Volpato, o (Marco) Villa, o Luiz Ruffato. São nomes representativos da cultura brasileira hoje, da literatura brasileira. E são pessoas com realmente que contribuem alguma coisa para o público, os leitores, ouvintes, sei lá. As outras também foram muito legais, e tal, mas a gente percebe que estão havendo um amadurecimento nas coisas. Pin Pin para Edgard Cavalheiro. E espero que isso continue nessa mesma linha, e fique cada vez melhor. Foi muito bom, mas a gente sempre encontra alguma forma de mudar, de criar, e de fazer uma coisa que talvez seja melhor e tal. E isso é o que eu espero que aconteça: sempre criativo, sempre dinâmico, e sem acomodação.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Escritor Jorge Abdalla concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o escritor pinhalense Jorge Abadalla, autor de Iniciação ao Sete, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Over Shock (Ricardo Biazotto) Jorge, para iniciar essa entrevista, comente um pouco sobre como foi sua entrada na literatura. Esse é um sonho recente ou já veio da mais longínqua infância?
Jorge Abdalla – Isso já veio de longe. Diria que, provavelmente, com as primeiras poesias na adolescência, as primeiras paixões. Na verdade a primeira poesia que eu fiz foi baseada em poemas de Camões. Então ele era todo certinho, decassílabo, depois que a gente foi entrando para modernidade. Da poesia eu fui para o conto, me apaixonei pelas histórias, escrevi algumas peças de teatro, e essa também foi outra paixão adolescente que eu trago até hoje que é o amor pelo teatro. Então eu hoje trabalho também com teatro, como ator, como diretor, e escrevo algumas peças. Todo ano eu monto pelo menos uma peça de teatro.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Iniciação ao Sete surgiu de que forma?
Jorge – Iniciação ao Sete surgiu de uma forma muito interessante, porque a princípio os contos eram orais. Eu inventava os contos e contava para os amigos numa mesa de bar, numa hora descontraída, conversando. Aí inventei o primeiro, o pessoal gostou. Inventei o segundo, o terceiro, até chegar o sete. Talvez por isso tenha dado o nome de Iniciação ao Sete. Os sete primeiros contos que abrem, que é o primeiro capítulo do livro, começaram sendo contados para os amigos. Aí eu me proibi, eu falei: “enquanto você, Jorge, não escrever os sete contos você não vai inventar mais”. Aí eu escrevi os sete contos, só a partir daí continuei inventando os outros, mas aí eu já passei a escrever direto, então veio a segunda série de sete, a terceiro série de sete, a quarta série de sete. Nesse livro estão as quatro primeiras séries de sete contos, então são 28 contos. Alguns mais infanto-juvenis, outros bem experimentais, até na linguagem, palavras novas, algumas frases novas, e outros são de fundo mais psicológico. E eu deixei um capítulo só para contos que já foram premiados em algum concurso, algum edital, coisas do tipo.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Olhando o livro dá pra perceber que possui uma diagramação bem interessante, com algumas ilustrações e tal. Como foi essa preparação?
Jorge – Ah, isso também foi outra coisa muito gostosa. Como eu tenho essa coisa do teatro, que eu gosto muito, eu falei: “Eu quero ilustrar o meu livro com desenhos feitos por crianças”. Então eu escolhi alguns contos, fui até uma escola pública, contei pra algumas classes de alunos de 5ª, 6ª, 7ª, 8ª séries, e a partir da narrativa eles fizeram os desenhos. Eu escolhi alguns desenhos, e depois coloquei no livro com o nome deles, com a idade, com a sala. E foi uma experiência muito legal.
Depois eu voltei na escola, entreguei os livros, a escola me recebeu assim de uma forma brilhante. Até me surpreendeu, porque quando eu cheguei na escola, o diretor tinha colocado a escola inteira, que tinha de 600 a 1000 alunos, no pátio e eu fui recebido com palmas e no fim, cada um daqueles alunos que colocaram sua ilustração no livro, acabaram sendo meus coautores, com seus dez anos, onze anos, doze anos. Foi muito legal!

Over Shock (Ricardo Biazotto)Como se deu a publicação dessa obra? Você encontrou algum tipo de dificuldade ou foi fácil?
Jorge – Então, na verdade eu esperei um tempo, porque não sabia direito como eu ia fazer. Aí apareceu um edital da Secretaria de Cultura de Estado, através de um programa que chama ProAc, que é Programa de Ação Cultural. Eu falei: “bom, eu tô com o livro pronto, vou arriscar concorrer, né?”. E foi escolhido, pela Secretaria pra ser publicado em 2011, aí até o processo todo de conseguir fazer como eu queria, achar editora e tudo, eu acabei conseguindo publicar ele no comecinho desse ano. Então isso foi gratificante para mim, porque como passou por uma escolha pela Secretaria de Cultura de Estado, eu falei: “puxa vida, então eles não são tão ruins assim, né?”. Então teve algum reconhecimento, isso foi muito gratificante pra mim.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Qual a sua sensação ao lançar Iniciação ao Sete na primeira Semana Edgard Cavalheiro aqui em Espírito Santo do Pinhal?
Jorge – Ah, pra mim foi o máximo! Puxa vida, a cidade que eu nasci; revi muitos amigos, lembrei muitas histórias que estavam meio adormecidas na minha memória, os meus companheiros de teatro, os meus companheiros de COJOP, parentes, amigos de futebol, de muita coisa assim que estava meio esquecido na minha memória, tudo isso foi reanimado. E o mais emocionante foi hoje: eu encontrei a minha professora de primeiro ano primário, Dona Carmela Belcuore, foi assim muito emocionante. Ela veio com a irmã, foi assim delicioso, fiquei muito feliz.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Para encerrar, gostaria que você comentasse um pouco sobre os seus futuros projetos ligados à literatura.
Jorge – Então, eu continuo escrevendo os meus contos, tenho um conjunto de poesia que eu ainda não publiquei assim como uma obra só de poesia. Esse livro tem algumas poesias, mas são apenas para abrir os capítulos. Tenho os meus textos de teatro. Então eu não vou fazer assim um plano fechado, mas eu continuo escrevendo, e assim como o destino me abriu essa porta, vou esperar o momento certo pra que eu possa lançar o próximo livro.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Escritor Cadão Volpato concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o escritor Cadão Volpato, autor de Pessoas que passam pelos sonhos, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Over Shock (Ricardo Biazotto)Cadão, para iniciar, comente um pouco sobre a sua carreira como escritor, como músico, como apresentador.
Cadão – Bom, eu na verdade, assim, a coisa do escritor veio... Na verdade a coisa do ilustrador veio antes de tudo, quando eu era pequeno. Aí na sequência eu quis ser escritor e aí esse romance, na verdade, como é o primeiro romance, é a realização de um sonho dos anos 70, porque eu lembro que quando eu entrei na faculdade a primeira coisa que eu disse que eu queria escrever um romance e tal, a professora questionou. Eu disse: “Olha, eu quero, minha vontade é escrever um romance”. E eu não falei assim: “Vou escrever um livro de contos. Quero escrever um livro” ou “Vou escrever contos”, “Vou ser escritor”. Não! Eu falei: “Eu quero escrever um romance”, eu lembro bem disso – é disso que eu vou falar inclusive. Aí muitos e muitos anos depois, isso aqui é a minha realização desse sonho inicial, entendeu?
Nesse meio tempo, você pode botar aí uns 30 anos, eu tinha uma banda chamada Fellini nos anos 80. Foi importante no circuito do underground de São Paulo daquela época, nos anos 80. A gente era uma banda independente, gravava de forma independente, mas uma coisa muito legal, foi uma experiência que me marcou. Quem me conhece sabe que é daí que vem um pouco, digamos assim, o tipo de vigor diferente no meu relacionamento com a arte. Pra mim foi experiência e tanto, porque a cena daquela época era uma cena muito forte, pouco próximo do punk.
Mas o que eu sempre quis fazer era escrever mesmo, e hoje eu estou, de certa forma, realizando isso, porque eu tenho quatro livros de contos que são anteriores a esse. Desde 95 eu venho publicando, tenho um livro infanto-juvenil também, mas eu não tinha realizado esse negócio de fazer um romance, porque muda tudo para você, sabe? Porque escrever um romance é criar um universo inteiro, e eu não tinha tido essa experiência. O fato de ter conseguido fazer isso de uma forma mais ou menos rápida mudou um pouco os parâmetros da minha carreira. Hoje em dia eu estou dedicado a escrever como jornalista e como romancista, e a minha tendência é continuar escrevendo romances. É o que eu quero fazer nos próximos anos.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Você encontrou algum tipo de dificuldade pra entrar no mercado literário?
Cadão – Não. Olha, eu tive muita sorte. Quando eu comecei a publicar em 95 a cena literária no Brasil, principalmente em São Paulo, era muito fraca no ponto de vista do escritor nacional. Em meados dos anos 80 a Companhia das Letras ainda estava se formando, era um mercado um pouco insípido assim, para o escritor brasileiro. Então eu comecei assim sem um parâmetro nacional. Isso foi muito legal.
Eu tentei a Companhia das Letras logo no começo, aí como a resposta demorou pra vir – pra você ver o que é falta de experiência -, a resposta demorou pra vir e eu passei esse livro pra Iluminuras, que é uma editora bem menor, e o Samuel Leão, que é o editor da Iluminuras, de quem eu fiquei amigo, ele de cara quis publicar, e o livro acabou saindo por essa editora menor. E na sequência os meus outros três livros de contos. E o romance foi um pedido também do Luiz Ruffato, o escritor. Ele estava fazendo uma espécie de curadoria pra editora Babel, que é uma editora portuguesa que ia entrar no mercado brasileiro, mas depois acabou não dando certo, enfim. Eu topei escrever um romance, escrevi muito rápido, e na sequência esse romance foi parar nas mãos da Cosac Naify, que é uma das grandes editoras do Brasil, e pra mim foi muito legal. Quer dizer, deu tudo muito certo, então eu não posso dizer pra você que eu tive uma dificuldade, que fui rejeitado, não teve nada disso. Fui muito bem recebido, inclusive na Cosac, quando eles resolveram publicar, foi uma coisa muito rápida, o que não costuma ser comum, e eu fiquei muito feliz por isso. Em relação a literatura tá tudo certíssimo, sabe?

Over Shock (Ricardo Biazotto)Sobre o que fala esse livro?
Cadão – Ele chama “Pessoas que passam pelos sonhos”, ele é um livro que se passa entre 69 e 79, em vários países da América do Sul, tomando São Paulo como base. É a história de um arquiteto, meio distraído assim, sujeito meio avoado, que vai para os lugares, viaja para os lugares, sempre por pretexto, sei lá, ele ouviu falar que La Paz é uma cidade bonita; ele vai até La Paz. Ele faz um circuito que acaba dando num chamado Hotel no Fim do Mundo, que é um hotel na Patagônia, e antes de chegar nesse hotel ele conhece um taxista, em Buenos Aires, de quem ele fica amigo instantaneamente. Então é a história dessa dupla, dessa amizade instantânea, que acontece com essa dupla. Um taxista de Buenos Aires e um arquiteto brasileiro, distraído.
Dez anos depois, a história dá um pulo, esse taxista precisa da ajuda do arquiteto porque um dos filhos dele se envolve com movimentos políticos na Argentina, numa época de repressão muito pesada nos anos 70, e ele pede que esse arquiteto receba esse filho dele em casa, em São Paulo. Então a história dá esse pulo, vai para o relacionamento desse garoto que chega acompanhado de uma menina, que é muito bonita, em São Paulo, com os filhos desse arquiteto, e tudo mais.
Então é uma espécie de... Passa pelo que significava ser jovem em 69 e 79, que são os períodos que eu conheci melhor, e também passa pelo momento político que esses país viviam de grandes ditaduras na América do Sul, mas um jeito mais tangencial, não bate diretamente na coisa, mas isso tudo é mostrado pela reação dos personagens, pelas vidas deles que são modificadas por esses acontecimentos políticos.

Over Shock (Ricardo Biazotto)E como se dá a sua palestra?
Cadão – Então, a minha palestra é exatamente em cima disso. Vou contar isso que eu estou falando pra você, quer dizer, ela se chama “Uma Aventura no Romance”, é isso basicamente. É como eu cheguei no romance. O que é muito simbólico do que eu tentei fazer a vida toda como artista, sabe? Mesmo sendo músico, mesmo sendo desenhista, mesmo sendo isso e aquilo, na verdade o que eu sempre procurava era chegar nisso aqui. Isso é o resultado de um longo trabalho, embora tenha sido escrito de uma forma muito rápida. Foi escrito em dois meses e meio, e talvez porque a demanda já estivesse muito represada, entendeu?

Over Shock (Ricardo Biazotto)Para encerrar, gostaria que você comentasse sobre seus futuros projetos na literatura, na música.
Cadão – Na música eu não tenho mais projetos. Acho que encerrei minha carreira, tenho essa impressão. Nunca se sabe, porque ao longo do tempo eu fiz algumas coisas assim, mas a música pra mim tem um interesse hoje secundário, não sei por que também. Não sei por que a indústria derreteu ou não, a indústria musical, mas na literatura eu já escrevi um novo livro, que é completamente diferente desse aqui, é um livro que conta uma aventura diferente.
É a história de um amigo, com quem eu compunha no Fellini e tal, que foi morar em Londres, trabalhar na BBC, e ele um dia chegou em São Paulo com a ideia de fazer uma stand-up comedy, uma comédia stand-up (risos). Eu fiquei muito impressionado com essa história, que eu escrevi uma novela contando a história desse cara ficcionalizado, evidentemente, porque é uma ficção não é um romance-verdade, mas muito inspirada na história, na trajetória dele, e tangencialmente, contando um pouco da minha trajetória como músico nos anos 80, por tabela.
Então é essa a história: um cara que vai stand-up, que é uma coisa pra mim extraordinária, eu nunca vi um stand-up ao vivo, não sei como é, mas eu não gostaria de ver, porque eu não gosto de comédia ao vivo dessa forma, acho meio chato. Comediante é uma coisa meio esquisita, porque o cara que é pago pra fazer graça é uma coisa esquisita. E eu sou do tempo de gostar do Charles Chaplin, esse tipo de comediante. Gostava de uns caras engraçados, mas nunca cheguei a pensar em stand-up, pra mim era uma coisa, imagina né...
E esse meu amigo veio com esse intuito, e o mais divertido é o seguinte: hoje ele está lá em São Paulo, estreando a stand-up dele, em um cafezinho. Ou seja: ele conseguiu realizar uma coisa, depois de todo esse tempo, basicamente ele concretizou a minha ficção, porque esse livro já está pronto, vai para a Cosac terça-feira, e o cara no sábado ele faz esse stand-up. Engraçado! Vamos ver no que vai dar, acho que vai ser legal.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cordelista Paulo Barja concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o cordelista Paulo Barja durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto
Over Shock (Ricardo  Biazotto)Paulo, para começar, gostaria que você comentasse um pouco sobre a literatura de cordel.
Paulo Barja – A literatura de cordel, eu considero uma ponte entre a literatura e a música. É uma literatura muito oral, é uma literatura pra gente ler em voz alta, e é muito um jeito de falar, que ao mesmo tempo em que tem a poesia presente, é muito próxima do cotidiano e do popular mesmo. São assuntos do cotidiano, assuntos do dia a dia, podem virar cordel. Então é uma poesia simples, uma poesia cessível, que é inclusive talvez a razão principal pela qual me encantei, essa simplicidade e ao mesmo tempo essa ponte entre a música e a literatura.

Over Shock (Ricardo  Biazotto)Atualmente qual é a procura dos cordéis?
Paulo – O Brasil viveu uma grande fase de cordel. O século XX teve muito, na década 40 e 50 do século XX o cordel vendia demais. O cordel era uma literatura que vendia muito. Hoje ainda vende bastante. Mudou um pouco, porque a gente tem acesso à internet, então hoje existe os cordéis virtuais também, que é um caminho.
O que acontece hoje, no nordeste ainda existe aquela coisa do cordel na feira, é muito comum. A gente vai para Aracaju, esses lugares têm os cordelistas na feira, então isso ainda tem bastante, mas houve uma mudança que eu posso dizer em termos de público, porque hoje o cordel chegou na escola, chegou na Academia. Então as faculdades, as universidades, os colégios e escolas, estão descobrindo o cordel. No nordeste isso já existe faz tempo, mas a gente aqui do sudeste está descobrindo isso, e o potencial assim do cordel na educação está crescendo demais, essa é a grande vertente atual.

Over Shock (Ricardo  Biazotto)Você mantém o projeto Cordéis Joseenses. Gostaria que você comentasse um pouco sobre isso.
Paulo – Isso! Na verdade porque eu sou apaixonado por cordel, sempre gostei, desde de novo, e comecei a colecionar cordéis. Então eu tenho uma coleção, uma cordelteca particular que tem talvez perto de três mil cordéis. Gosto de escrever também, então um belo dia eu falei: “Espera aí, e se eu começar a juntar esses interesses? Eu gosto de escrever, gosto de cordel, vou experimentar”. Comecei a brincar de fazer cordel, e me identifiquei demais, eu me encontrei aí. Então eu comecei a fazer os Cordéis Joseenses nesse espírito, também motivado pela ideia de como fazer uma literatura que pudesse ser acessível pra crianças. O cordel tradicional muitas vezes é mais duro, um pouco mais pesado, e algumas pessoas questionam um pouco isso. Então eu falei: “Não, eu vou fazer um cordel que seja tranquilo para salas de aulas, para escolas, para praças, ruas, um cordel mais universal possível” e essa tem sido a tônica dos Cordéis Joseenses nesses cinco anos de vida.

Over Shock (Ricardo  Biazotto)Recentemente você participou da Semana do Livro Nacional, né?
Paulo – Sim, Semana do Livro Nacional. Estivemos em São José dos Campos, onde a gente mora, então tivemos um sarau, tivemos uma mesa sobre poesia, sempre divulgando e tentando fazer esse cordel interagindo com o público, que é uma coisa que a gente gosta.

Over Shock (Ricardo  Biazotto)E o que você acha dessa ideia da Josy Stoque que movimentou o país inteiro, com vários escritores?
Paulo – Acho super importante e acho que esse tipo de iniciativa a gente quer que se multiplique mesmo, é algo que é muito simpático, é importante. Veja o meu caso: eu e a maioria dos escritores participantes somos escritores independentes, então a gente não tem um laço preso com uma editora, a gente não tem essa infraestrutura, toda essa dinâmica que já existe e ajuda, vamos dizer, os best-seller. A gente tá em outro campo, então a união faz a força. Pra gente, pra nós escritores, pessoal jovem, produzindo de forma independente. A união faz a força pra gente!

Over Shock (Ricardo  Biazotto)Para encerrar, comente um pouco sobre o que será a sua palestra hoje aqui na Semana Edgard Cavalheiro?
Paulo – A gente vai fazer um bate-papo informal, onde eu vou apresentar um pouco a história do cordel, antes até de chegar no Brasil, o cordel já existia na Europa. Aí falar um pouquinho do cordel no Brasil, de como a gente percebeu que o cordel foi ampliando leque de assuntos, ele trata de muita coisa, como o Brasil foi sendo escrito em cordel ao longo do tempo, aí vou exemplificar com alguns Cordéis Joseenses.