quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A missão do escritor é “falar pelos outros, não por si”, afirma Pedro Bandeira

Após vários dias dedicados aos mais variados segmentos artísticos, como a música, o teatro e a dança, a Semana Edgard Cavalheiro chegou ao fim, no último sábado, 01, com a ilustre presença do escritor infanto-juvenil Pedro Bandeira.

A primeira atividade do autor do recém-lançado “A Droga da Amizade” aconteceu em estabelecimentos comerciais do Centro de Espírito Santo do Pinhal-SP, onde autografou livros e atendeu os seus leitores. Logo na sequência, o escritor se encontrou com o público presente no Theatro Avenida, local em que, durante a noite, ministrou uma palestra sobre a importância da leitura na construção de um país.

Por estar participando de um evento em homenagem ao escritor pinhalense Edgard Cavalheiro, criador do Prêmio Jabuti e maior biógrafo de Monteiro Lobato, o escritor declarou a sua admiração pelo criador de, entre outros, “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Segundo disse em entrevista exclusiva, Lobato foi quem “fez as minhas ideias políticas, quem fez o meu patriotismo, o meu nacionalismo, minha sede pela leitura, pela cultura e pela justiça”.

Pedro Bandeira ainda contou que seu pai faleceu antes do seu nascimento, por isso Monteiro Lobato foi o único homem adulto a falar por ele. “Ele serviu para me formar”, afirmou. “É como se eu realmente pudesse falar de um pai, um pai que eu também não conheci pessoalmente, mas até hoje eu o conheço”.

O escritor ressaltou também o trabalho de Edgard Cavalheiro ao escrever sobre a vida e obra de Monteiro Lobato. Para ele, Cavalheiro compreendia o lado pioneiro de Lobato e não o retratava apenas como um polemista, algo que acontece muitas vezes ao falar sobre a vida do escritor. “Ele foi um pioneiro em um monte de coisas. Não um pioneiro efetivo - as coisas que ele tentou fazer muitas vezes não deram certo -, mas deixaram portas abertas”.

Por fim, Pedro garantiu que a amizade entre Cavalheiro e Lobato foi essencial para a construção do mais importante livro do escritor homenageado na semana cultural. “A informação que ele nos dá de Lobato é muito mais sólida”, por isso que “hoje quem vai falar de Lobato primeiro lê Edgard Cavalheiro, depois vai falar de Lobato. A primeira fonte: Edgard Cavalheiro, não tem outra”.

Sobre o que ainda falta em sua carreira literária, visto que já conquistou importantes prêmios e participou da formação literária das últimas gerações de brasileiros, Pedro Bandeira afirmou ser difícil dizer, mas que não quer se repetir nos futuros livros. “Eu não quero fazer algo que já fiz. Eu preciso buscar dentro da sensibilidade dos meus leitores, verdades que ainda não explorei”.

Segundo ele, estudar e observar os seus leitores é essencial para sentir inspirações sobre o que ainda não tocou em suas obras. “Essa é a missão do escritor: falar pelos outros, não por si”. “Eu falo pelos pré-adolescentes”, “então eu continuo tentando ouvi-los para poder falar aquilo que eles pensam”. “O que me falta é isso: continuar falando por eles”, concluiu.

O escritor também comentou sobre o livro “A Droga da Amizade”, sexto volume da série Os Karas, que chegou às livrarias no último mês de agosto. Apesar de ainda não ter recebido nenhum e-mail falando sobre o livro, o que acredita que começará a acontecer no próximo ano, Pedro Bandeira acha que “vai ser bem recebido” e “que vai ter polêmicas divertidas, do tipo: quem eu escolhi para casar com a Magrí”. “Então vai ter gente que vai concordar e vai ter gente que não vai concordar”. “Tenho certeza que muita gente não vai gostar”, brincou.

Ainda que não tenha feito nenhuma afirmação sobre suas próximas obras, o escritor de 72 anos não descartou a possibilidade de novos livros da série Os Karas e afirmou que tudo vai depender do que deseja passar aos seus leitores. “Se eu quiser falar uma coisa um pouco mais da realidade, um pouco mais política, pouco mais vivas, provavelmente podem ser Os Karas”.

A possibilidade de a série ser adaptada ao cinema não agrada totalmente o escritor, que afirmou que gostaria que o filme não fosse filmado. Segundo Pedro, que possui um contrato assinado em vigência, aguardando a captação do recurso, o único filme adaptado de uma de suas obras acabou prejudicando o livro “O Fantástico Mistério de Feiurinha”. “Então eu fico com medo que façam tão ruim que prejudique “A Droga da Obediência”, por exemplo”, explicou.

Para encerrar, ele comentou sobre o atual momento da literatura infantil e juvenil no país, o que ele acredita estar indo muito bem. “O Brasil é o primeiro do mundo em literatura infantil e juvenil”, disse ressaltando os jovens autores brasileiros. Mesmo que não tenha condições de acompanhar todos os livros produzidos, Pedro Bandeira afirmou: “alguns que eu pude ver me deixam bastante otimista”.

Entrevista realizada em parceria com o blog Over Shock.

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