quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Com a presença de jovens estudantes, Marco Villa faz um passeio pela história política do Brasil

Para a nova geração de leitores, que tiveram o hábito da leitura despertado graças a grandes sucessos editoriais, relacionar literatura e política pode ser uma missão complicada. No entanto, quando paramos para analisar os grandes clássicos de nossa literatura, fica clara a intenção dos antigos intelectuais em mudar a história através de seus livros.

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
O historiador e comentarista do Jornal da Cultura Marco Antonio Villa, palestrante da noite de terça-feira, 13, na Semana Edgard Cavalheiro, iniciou sua palestra “Política, História e Literatura” comentando sobre casos em que escritores foram os protagonistas da história política do país. “Você vê que no século XIX, muitos dos livros tratam da questão da escravidão, vou lembrar o caso de “O Cortiço”, por exemplo. No século XX, nos anos 30 e 40, o romance regionalista tem sempre uma temática social. Então em vários momentos da literatura brasileira ela dialogou com as questões da sociedade brasileira, ou durante o Império ou durante a República”, disse durante entrevista após sua palestra.

O historiador ainda comentou que com o passar do tempo houve um afastamento das relações entre escritores, intelectuais e a vida política. “Pode ser também, não sei por que, a literatura brasileira foi perdendo grandes nomes. É difícil você encontrar grandes nomes da literatura brasileira com menos de cinquenta anos. Você vai procurar, procurar e vai ter uma dificuldade”, explicou.

Antes da entrevista, em uma palestra de tom irônico e muitas vezes engraçado, Marco Villa mostrou o motivo de ser considerado um grande crítico do sistema político de nosso país. Ainda no início, diz achar engraçado que um político condenado em mais de 100 países, como é o caso de Paulo Maluf, continue sendo recebido por prefeitos, governadores e outros políticos brasileiros. “Algo que só acontece na terra descoberta por Cabral”, brincou em outro momento.

Segundo o historiador, o grande problema da política brasileira é o fato do país ser refundado a cada década. Villa cita como exemplo as mudanças que o país sofreu após o fim da ditadura militar e a primeira eleição democrática, em 1985, que elegeu Tancredo Neves. Após o falecimento de Tancredo, que não chegou a tomar posse, o vice-presidente José Sarney assumiu a presidência no momento mais importante da história política recente do país. Na mesma época iniciou uma série de fracassos nos planos de estabilização econômica, enquanto que na eleição seguinte, o presidente eleito, Fernando Collor de Mello, acabou sofrendo o processo de Impeachment. “Collor foi primeiro candidato à presidência a lutar contra a corrupção e a sofrer o processo de Impeachment devido à corrupção”, declarou Villa.

Continuando seu relato sobre a história da política brasileira, Marco Villa disse que Itamar Franco, vice-presidente e substituto de Collor após o Impeachment, assumiu a presidência em um momento catastrófico. Mas foi a partir daí, com a elaboração do chamado Plano Real pelo então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que a economia brasileira se estabilizou.

No entanto, Villa ainda declara que o Brasil cresceu apenas devido ao boom da economia chinesa na última década do século XX, o que movimentou, entre outras coisas, a exportação dos produtos brasileiros. Já sobre o momento da economia, que o atual governo diz estar avançado desde 2003, quando o ex-presidente tomou posse, Villa cita como exemplo a estimativa do crescimento do país ao fim de 2013: “O Brasil vai crescer 1/3 ou metade em relação a outros países emergentes. Isso devido a nossa péssima política econômica”.

No fim de sua palestra, o historiador ironizou os discursos da presidente Dilma Rousseff durante as manifestações que ocorreram nas últimas semanas e disse que não temos alternativas para a próxima eleição, explicando com exemplos em relação a todos os prováveis candidatos: Aécio Neves, Eduardo Ribeiro, Marina Silva e a própria Dilma Rousseff, que tentará a reeleição.

Por fim, ao ser questionado durante entrevista sobre o processo de produção de seus livros, Marco Villa, autor de Mensalão - O Julgamento do Maior Caso de Corrupção da História Política Brasileira, disse que “o trabalho do historiador é um pouco diferente do que o trabalho do escritor romancista, por exemplo, porque ele trabalha com fontes, primárias, secundárias e tal, portanto todo trabalho depende dessas fontes”. “É um trabalho tão solitário, porém ele parte de um objeto, ele faz o seu estudo, levanta hipótese sobre esse objeto, estuda e tal, sempre de acordo com as fontes que ele tem acesso. É sempre um trabalho, na maior parte das vezes, solitário”, completou.

Também em entrevista, o vice-prefeito Municipal, João Detore, comentou sobre a importância da presença de um historiador com trabalhos ligados a política em uma semana literária: “É uma maneira de você conscientizar a população. Política é uma coisa bela, é uma filosofia de vida. Problema são os políticos” “então a gente teve uma oportunidade de saber que existe jeitos, existe envolvimento da sociedade”, declarou.

Matéria publicada em parceria com o blog Over Shock.

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