terça-feira, 13 de agosto de 2013

Semana Edgard Cavalheiro se inicia com literatura contemporânea e belo tributo a Vinicius

Segunda-feira não é um dia comum para a realização de eventos, independente de qual seja área, mas não deixou de ser agradável a noite que abriu as atividades da Semana Edgard Cavalheiro, que ocorre até domingo no Cine Theatro Avenida de Espírito Santo do Pinhal.

A primeira atividade da noite foi a solenidade de abertura da semana literária que aconteceu com a presença de José Benedito de Oliveira, prefeito municipal, João Detore, vice-prefeito municipal, João Batista Rozon, presidente da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, Ana Tereza Castro Leite, presidente da Associação dos Amigos do Theatro Avenida, e Dirce Cleia Malheiro, diretora do Departamento de Educação da cidade. Na sequência foi executado o hino do Brasil e também da cidade.

Já com a palavra, o prefeito municipal, Zeca Bene, parabenizou os organizadores do evento e agradeceu ao público presente antes de dizer que Pinhal está mudando e se tornando referência em toda a região. Na sequência declarou aberta a Semana Edgard Cavalheiro.

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Os demais membros presentes na mesa também fizeram uso da palavra. Ana Tereza declarou esperar que a Semana Edgard Cavalheiro seja aproveitada por todos e que entre definitivamente para o calendário das atividades culturais do estado e munícipio. Já João Batista Rozon disse que é preciso realizar várias reuniões em torno do desenvolvido para que seja possível resgatar a memória da cidade. Grande idealizador do projeto, João Rozon aproveitou a oportunidade para pedir que os professores levem seus alunos para prestigiar eventos culturais, em especial a Semana que se iniciou na noite de segunda-feira, 12.

A diretora do Departamento de Educação revelou ter sentido a existência de um vácuo cultural gerado pela falta de interesse da população em participar de eventos culturais, no entanto, Dirce ressaltou a importância de que eventos semelhantes sejam sempre realizados. “Daqui 14 anos, a 14ª edição da Semana Edgard Cavalheiro terá muitos participantes e estará surgindo ali um “Edgardzinho””, brincou.

João Detore, vice-prefeito e um dos organizadores do evento, também declarou esperar colher frutos dessa primeira edição da Semana Edgard Cavalheiro, encerrando assim a parte solene da primeira noite do evento.

Mais do que uma palestra: uma aula sobre a literatura contemporânea
Quando a programação da Semana Edgard Cavalheiro foi anunciada com a presença de Luiz Ruffato, que esteve na cidade em 2011, era certo de que essa seria uma das principais atrações do evento. O que sabíamos também era que sua palestra seria muito importante, sobretudo para aqueles que, assim como ele, desejam conquistar espaço no mercado editorial.

Após a solenidade de abertura, e a apresentação da biografia de Luiz Ruffato, o escritor mineiro subiu ao palco do Theatro Avenida para uma palestra de pouco mais de uma hora, que se passou rapidamente devido a sua dinâmica.

Ainda no início, Ruffato comentou sobre sua amizade com o escritor pinhalense Moacir Amâncio. “O Moacir Amâncio, que é um grande amigo meu” “foi fundamental para que eu viesse naquela primeira semana (o Pin Pin de Literatura em 2011). Na época ele me convidou, eu evidentemente que vim por causa dele, e chegando aqui eu encontrei outras pessoas que moram aqui, que fazem um esforço imenso para dar um verniz cultural à cidade, então também se cria laços afetivos”, comentou durante entrevista exclusiva realizada pelo blog Over Shock antes da palestra.

Na sequência, Ruffato contou sobre o que é a literatura contemporânea e sobre um grupo de escritores, da qual ele faz parte, que se reunia na década de 90 para troca de informações sobre seus textos. Ruffato contou que na época a chamada “Geração 90” publicou uma antologia para mostrar que existiam pessoas fazendo algo pela literatura brasileira, já que todos tinham um mesmo interesse.

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Por acreditar no poder transformador dos livros, Ruffato foi idealizador da Igreja do Livro Transformador, projeto que dá a oportunidade de leitores contarem sobre suas primeiras experiências literárias. E ele ainda diz acreditar que é necessário um plano de incentivo por parte do governo. Segundo Ruffato, a estabilidade política e econômica que se iniciou no Brasil a partir de 2002 foi fundamental para as melhorias do mercado editorial. O escritor cita ainda que atualmente 35% da produção editorial no Brasil são adquiridas pelo governo como forma de incentivo à leitura. “Uma coisa é você não ter nenhum livro na biblioteca, e você não vai ter nenhum leitor, evidentemente. Outra coisa é você ter livros. Significa que vai ter leitor? Não sei. Mas pelo menos você pode ter leitor, na outra opção não tinha nenhuma possibilidade”, disse também em entrevista.

Ruffato, que em 2003 deixou de trabalhar como secretário de redação do Jornal da Tarde para se dedicar exclusivamente à literatura, disse não saber se é possível viver de literatura no Brasil, mas que ele consegue. Ele ainda revelou que na época poucos escritores conseguiam viver disso, sem trabalhar como colunista ou roteirista, por exemplo, mas que hoje tem muito mais pessoas. “Não sou um nababo, mas também não vivo miseravelmente, mas eu trabalho muito. Eu trabalho muito!”, enfatizou.

O escritor disse ainda que isso só é possível devido às mudanças sofridas após o governo Collor, já que outros países passaram a se interessar por aquilo que é produzido no Brasil e o país despertou a atenção. Ruffato ainda comenta que essa mudança contribuiu para as duas participações do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt: em 1994 e em 2013, que será realizada nos próximos meses.

Já no final de sua palestra o público presente fez perguntas para o escritor, que faz um trabalho na chamada literatura urbana. Filho de um pipoqueiro semianalfabeto e de uma lavadeira de roupas analfabeta, Ruffato revelou que decidiu escrever sobre o assunto “porque não havia nenhum livro sobre o trabalho urbano”.

Por fim, ao ser questionado sobre as tendências literárias e aquilo que o público e as editoras desejam ler, Ruffato declarou que faz uma literatura difícil e não escreve para agradar ninguém. “Lixe-se para o mercado e para o leitor”, concluiu comentando que o escritor deve escrever o que bem entende.

Um show, incontáveis sentimentos
Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Era para ser apenas um tributo em homenagem a Vinícius de Moraes para encerrar a primeira noite do evento, mas quando se trata de Vinícius de Moraes a palavra “apenas” é insignificante. Após uma verdadeira aula sobre literatura contemporânea, coube a jovem Anna Setton a missão de encantar o público presente. Ela não só encantou como também emocionou ao cantar Vinícius.

Dona de uma voz marcante e belíssima, Anna Setton voltou a Pinhal algumas semanas após se apresentar ao lado de Toquinho, dessa vez cantando Vinícius de Moraes em um tributo em homenagem ao centenário do poeta, que acontece em outubro. “Me sinto muito honrada (em voltar) porque as pessoas gostaram da minha presença, gostaram da minha surpresa na primeira vez e fico muito feliz”, declarou em entrevista exclusiva.

Anna Setton, que pretende gravar um disco e lançá-lo no próximo ano, disse ter começado “na música, de maneira amadora, na adolescência”, quando começou a tocar e a fazer aulas de canto. “Comecei a gostar mais, cada vez mais, fui me apaixonando, me aprofundando e quando eu tinha uns vinte e poucos anos que eu realmente falei: “Não, eu quero seguir profissionalmente com a música””, contou.

Sobre seu contato com Vinícius de Moraes, Anna disse ter tido o primeiro contato ainda em sua família e que já no início de sua carreira possuía um repertório com canções de Vinícius. Ela revela também que cantando ao lado de Toquinho, um dos principais parceiros de Vinícius, conheceu ainda mais a história do poeta. A experiência ao lado de Toquinho contribuiu para grande parte do tributo, que faz um passeio pelas principais canções e parcerias de Vinícius de Moraes.

No ponto alto da apresentação, Anna Setton canta “Eu sei que vou te amar”, canção que a própria cantora diz causar uma identificação no público. Nessa canção, considerada pela Rolling Strone Brasil como a 24ª melhor música brasileira, cantora e público parecem se declarar a Vinícius, um dos principais nomes de nossa música: eu sei que vou te amar, Vinícius. Por toda a minha vida eu vou te amar, Vinícius.

Foi assim que, de maneira emocionante, se encerrou as atividades do primeiro dia da Semana Edgard Cavalheiro.

Matéria publicada em parceria com o blog Over Shock.

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