sábado, 21 de setembro de 2013

Educador Alexandre Camilo concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o educador Alexandre Camilo, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Over Shock (Ricardo Biazotto)Alexandre, gostaria que você comentasse um pouco da sua carreira como educador, palestrante, como ator.
Alexandre Camilo – O fato de eu ser um ator me ajudou muito nas minhas aulas, porque eu comecei, eu me formei como ator, depois eu fui lecionar, fui lecionar teatro, depois eu me especializei em teatro aplicado na educação, comecei os espetáculos e ia muito às escolas. E quando eu fui convidado a lecionar, eu vi nas escolas aquilo que eu não gostava: eu via tanta possibilidade e via a criança desmotivada. Então as minhas aulas, modéstia a parte, eram aulas muito divertidas e às vezes causava ciúmes em outros professores: “Ah, porque na minha aula ninguém para quieto”. Eu falei: “Não é, é porque a gente precisa saber dosar, colocar”. Isso foi uma coisa que foi me deixando inquieto e aí eu comecei a pesquisar isso: “Como seria a melhor forma da pessoa se comunicar? Do educador se comunicar?”.
Depois eu fui ao mundo corporativo, comecei a fazer isso dentro das empresas esse trabalho, porque dentro das empresas às vezes você tem vários líderes que tem muito conhecimento, mas que tem uma dificuldade enorme de se comunicar com a sua equipe. Então acontecia que você via líderes, que são pessoa que poderiam ser espelho para a equipe, desmotivando a sua equipe. Aí o meu trabalho foi focado nisso. Então eu tenho um trabalho de comunicação no mundo corporativo. Como a pessoa como líder pode estimular pessoas precisam obter resultados através de pessoas. Tem gente que precisa obter resultado através de pessoas: o bom professor, o bom vendedor, ele precisa se relacionar com pessoas. Algumas profissões estão ligadas a paixão pelo outro, a paixão pelo ser humano. Eu digo que quem não gosta de gente tem que trabalhar em TI e olhe lá, porque sempre uma pessoa. Tem gente que não devia trabalhar com Recursos Humanos, devia trabalhar com recursos bovinos. Eu brinco: “Nem bovinos, coitado do gado”. Eu acho que trabalhar com gente é algo muito apaixonante, e eu procuro mostrar isso nesse trabalho, então a minha carreira enveredou pra um tipo de atuação que ainda se dá nos palcos, mas em menor quantidade. Eu trabalho muito mais nesse mundo corporativo, nesse mundo com educadores, aonde a partir desse trabalho motivacional ou esse trabalho de comunicação eu procuro aprofundar mais esse autoconhecimento.

Over Shock (Ricardo Biazotto)O que é necessário, na sua visão, para os educadores e os profissionais de outras áreas mudarem de postura?
Alexandre – O essencial, eu acho que o primeiro passo, é a observação de si mesmo. O que eu percebo é que as pessoas elas são muito atentas aos outros, a observar o outro, dedicando pouco tempo para si próprio. Então quando a pessoa começa a perceber aquilo que eu digo que às vezes causa desconforto: o professor é exigente quando ele está na plateia, mas é pouco exigente quando consigo mesmo quando está no palco, porque isso leva a pessoa a prestar atenção na postura dela, na forma dela falar, na forma dela se comunicar, por isso que eu digo que o corpo fala; a comunicação não verbal. Eu chamo atenção a isso porque a pessoa começa a se autoconhecer e isso já é da Grécia, né? “Conhece-te a si mesmo”. Então você começa a prestar atenção na pessoa mais importante do seu mundo: é você, Ricardo, que vai fazer a diferença. É você motivado, atento com você, com as coisas, que vai poder fazer diferente. As coisas mudam a partir de você, quando você decide experimentar, quando você decide ousar, quando você acha que pode, você pode. Agora se você achar “não, isso não vai dar certo, eu não vou poder”, aí não adianta eu ficar te motivando, falando. Você é capaz de se abrir, mas se você se abre, nossa, você vai fazer coisas que você vai se surpreender. Então é este o meu convite: que a pessoa se surpreenda. Que pra isso ela mude a postura dela, mas é um exercício, e não é fácil.
Você veja a brincadeira que eu faço: “troquem de lugar”. Por que? Troca! É um exercício, mas é difícil. A pessoa não levanta, a outra fica meio... Então eu chamo atenção a esses detalhes, as coisas pequenas que valorizam as grandes coisas. As coisas se dão em detalhes.

Over Shock (Ricardo Biazotto)O que você espera que educadores que estiveram na palestra de hoje levem para suas casas, levem para suas vidas.
Alexandre – Espero que eles saiam daqui cheio de perguntas. A pergunta é mais importante do que a resposta, como estava até falando para o Eduardo. Que ele saiam pensando no papel de cada um deles, né? “Quem sou eu?” “Que mundo é esse?” “Qual o meu papel?”. Quem sou eu? Eu sou Alexandre Camilo Gonçalves, tenho 45 anos. Que mundo é esse? Eu estou em um mundo em que os pais matam os filhos, os filhos matam os pais. Qual o meu papel nesse mundo? Qual a minha missão?
Você, Ricardo; o Eduardo é jornalista; o professor Cláudio é professor. Qual é a sua função nesse mundo? Qual o seu papel nesse mundo? Você tem uma boa voz, isso te ajuda, mas é só isso? Não! O que você pode fazer com a tua profissão? O que você pode fazer pelo teu entorno. Um médico tem uma função muito importante. Um médico, quando ele pode errar, ele pode prejudicar uma pessoa. Um professor pode prejudicar trinta numa classe. Ele pode ser um serial killer naquela brincadeira que eu fiz, né? Ele pode matar a vontade de trinta alunos de se relacionar com livros, de descobrir esse universo, ou ele pode fazer exatamente o contrário, ser o agente de estímulo para que essas pessoas saiam daqui com vontade de ler, de fazer. O papel do professor ele é muito importante. Ele é muito importante hoje, como foi muito importante na Grécia Antiga. Esse papel nunca vai ser desvalorizado, o que talvez precise é que o professor se reinvente, que ele repense sua postura, a sua maneira de tratar o outro e a maneira como que ele está tratando a si próprio.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Como contador, o que você acha que é necessário que os professores façam em suas salas de aula para motivar os alunos a leitura, a conhecer outros tipos de artes, como o teatro, a música?
Alexandre – É fundamental que o professor tenha esse gosto. Aquilo que eu disse: ninguém pode dar aquilo que não tem. Se o professor tem amor pela palavra, pela arte, ele vai ser um agente motivador do seu aluno pra isso. Se ele gosta de algumas histórias, ele trabalha essas histórias... Teve uma professora que me contou uma coisa muito interessante: toda vez que chovia ela fazia contação de histórias na classe. Então ela montava o cenário, tinha pipoca, e se chovia a aula começava com contação de histórias. Aí ela fazia isso como um ritual. Se estava chovendo a aula começava com contação de histórias, e isso chamou a atenção da direção, uma vez que nos dias de chuva todas as classes tinham menos alunos, mas a dela não, nunca faltava, era o contrário. Então ela foi descobrir que as crianças faziam questão de vir embaixo de chuva e às vezes alegavam aos pais porque queriam vir, porque sabia que se tinha chuva, eu ter contação de histórias, ia ter pipoca, ia ter um outro universo.
Então o professor pode estimular a ida ao teatro, né? Aqui em Espírito Santo do Pinhal vocês têm um teatro maravilhoso, um teatro lindo que é um presente. Então trazer alunos para esse teatro é privilégio. Ter essa oportunidade, do professor apresentar diferentes ritmos, diferentes músicas, de ele ter a oportunidade de apresentar até diferentes tipos de filmes, né? Dependendo da idade e da classe, o professor pode ser esse agente pra ter um novo olhar. Só tem filme que passa com violência, só tem filme assim, ele pode estimular um cinema nacional de qualidade, pode estimular outro tipo de filme. E se ele souber canalizar isso e indicar isso pra classe, a classe não esquece.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Para encerrar, gostaria de deixar o espaço aberto para você mandar uma mensagem para os ouvintes* (leitores).
Alexandre – Eu queria agradecer aos ouvintes. Dizer que eu sou um apaixonado por rádio, eu acho fantástico, porque o rádio tem muito a ver com o meu trabalho com contação de história, porque no rádio eu estou falando e talvez você não conheça o meu rosto, mas tá me imaginando, imaginando o que estou falando. Através da história é a mesma coisa: na história o recurso é a palavra. E o rádio tem esse poder, o rádio chega em todos os lugares, então eu sou um apaixonado por rádio, estou muito feliz de estar aqui em Espírito Santo do Pinhal, uma cidade que tem um teatro maravilhoso, pessoas muito acolhedoras, quero voltar pra esse teatro novamente, e se tiver a oportunidade de estar conversando novamente com os ouvintes, pra mim seria realmente um verdadeiro prazer. Ou um presente, como eu costumo dizer.

* Entrevista também realizada para o programa Patrícia Françoso com Você, da Rádio Interativa - FM 106,3

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