quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Escritor Cadão Volpato concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o escritor Cadão Volpato, autor de Pessoas que passam pelos sonhos, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Over Shock (Ricardo Biazotto)Cadão, para iniciar, comente um pouco sobre a sua carreira como escritor, como músico, como apresentador.
Cadão – Bom, eu na verdade, assim, a coisa do escritor veio... Na verdade a coisa do ilustrador veio antes de tudo, quando eu era pequeno. Aí na sequência eu quis ser escritor e aí esse romance, na verdade, como é o primeiro romance, é a realização de um sonho dos anos 70, porque eu lembro que quando eu entrei na faculdade a primeira coisa que eu disse que eu queria escrever um romance e tal, a professora questionou. Eu disse: “Olha, eu quero, minha vontade é escrever um romance”. E eu não falei assim: “Vou escrever um livro de contos. Quero escrever um livro” ou “Vou escrever contos”, “Vou ser escritor”. Não! Eu falei: “Eu quero escrever um romance”, eu lembro bem disso – é disso que eu vou falar inclusive. Aí muitos e muitos anos depois, isso aqui é a minha realização desse sonho inicial, entendeu?
Nesse meio tempo, você pode botar aí uns 30 anos, eu tinha uma banda chamada Fellini nos anos 80. Foi importante no circuito do underground de São Paulo daquela época, nos anos 80. A gente era uma banda independente, gravava de forma independente, mas uma coisa muito legal, foi uma experiência que me marcou. Quem me conhece sabe que é daí que vem um pouco, digamos assim, o tipo de vigor diferente no meu relacionamento com a arte. Pra mim foi experiência e tanto, porque a cena daquela época era uma cena muito forte, pouco próximo do punk.
Mas o que eu sempre quis fazer era escrever mesmo, e hoje eu estou, de certa forma, realizando isso, porque eu tenho quatro livros de contos que são anteriores a esse. Desde 95 eu venho publicando, tenho um livro infanto-juvenil também, mas eu não tinha realizado esse negócio de fazer um romance, porque muda tudo para você, sabe? Porque escrever um romance é criar um universo inteiro, e eu não tinha tido essa experiência. O fato de ter conseguido fazer isso de uma forma mais ou menos rápida mudou um pouco os parâmetros da minha carreira. Hoje em dia eu estou dedicado a escrever como jornalista e como romancista, e a minha tendência é continuar escrevendo romances. É o que eu quero fazer nos próximos anos.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Você encontrou algum tipo de dificuldade pra entrar no mercado literário?
Cadão – Não. Olha, eu tive muita sorte. Quando eu comecei a publicar em 95 a cena literária no Brasil, principalmente em São Paulo, era muito fraca no ponto de vista do escritor nacional. Em meados dos anos 80 a Companhia das Letras ainda estava se formando, era um mercado um pouco insípido assim, para o escritor brasileiro. Então eu comecei assim sem um parâmetro nacional. Isso foi muito legal.
Eu tentei a Companhia das Letras logo no começo, aí como a resposta demorou pra vir – pra você ver o que é falta de experiência -, a resposta demorou pra vir e eu passei esse livro pra Iluminuras, que é uma editora bem menor, e o Samuel Leão, que é o editor da Iluminuras, de quem eu fiquei amigo, ele de cara quis publicar, e o livro acabou saindo por essa editora menor. E na sequência os meus outros três livros de contos. E o romance foi um pedido também do Luiz Ruffato, o escritor. Ele estava fazendo uma espécie de curadoria pra editora Babel, que é uma editora portuguesa que ia entrar no mercado brasileiro, mas depois acabou não dando certo, enfim. Eu topei escrever um romance, escrevi muito rápido, e na sequência esse romance foi parar nas mãos da Cosac Naify, que é uma das grandes editoras do Brasil, e pra mim foi muito legal. Quer dizer, deu tudo muito certo, então eu não posso dizer pra você que eu tive uma dificuldade, que fui rejeitado, não teve nada disso. Fui muito bem recebido, inclusive na Cosac, quando eles resolveram publicar, foi uma coisa muito rápida, o que não costuma ser comum, e eu fiquei muito feliz por isso. Em relação a literatura tá tudo certíssimo, sabe?

Over Shock (Ricardo Biazotto)Sobre o que fala esse livro?
Cadão – Ele chama “Pessoas que passam pelos sonhos”, ele é um livro que se passa entre 69 e 79, em vários países da América do Sul, tomando São Paulo como base. É a história de um arquiteto, meio distraído assim, sujeito meio avoado, que vai para os lugares, viaja para os lugares, sempre por pretexto, sei lá, ele ouviu falar que La Paz é uma cidade bonita; ele vai até La Paz. Ele faz um circuito que acaba dando num chamado Hotel no Fim do Mundo, que é um hotel na Patagônia, e antes de chegar nesse hotel ele conhece um taxista, em Buenos Aires, de quem ele fica amigo instantaneamente. Então é a história dessa dupla, dessa amizade instantânea, que acontece com essa dupla. Um taxista de Buenos Aires e um arquiteto brasileiro, distraído.
Dez anos depois, a história dá um pulo, esse taxista precisa da ajuda do arquiteto porque um dos filhos dele se envolve com movimentos políticos na Argentina, numa época de repressão muito pesada nos anos 70, e ele pede que esse arquiteto receba esse filho dele em casa, em São Paulo. Então a história dá esse pulo, vai para o relacionamento desse garoto que chega acompanhado de uma menina, que é muito bonita, em São Paulo, com os filhos desse arquiteto, e tudo mais.
Então é uma espécie de... Passa pelo que significava ser jovem em 69 e 79, que são os períodos que eu conheci melhor, e também passa pelo momento político que esses país viviam de grandes ditaduras na América do Sul, mas um jeito mais tangencial, não bate diretamente na coisa, mas isso tudo é mostrado pela reação dos personagens, pelas vidas deles que são modificadas por esses acontecimentos políticos.

Over Shock (Ricardo Biazotto)E como se dá a sua palestra?
Cadão – Então, a minha palestra é exatamente em cima disso. Vou contar isso que eu estou falando pra você, quer dizer, ela se chama “Uma Aventura no Romance”, é isso basicamente. É como eu cheguei no romance. O que é muito simbólico do que eu tentei fazer a vida toda como artista, sabe? Mesmo sendo músico, mesmo sendo desenhista, mesmo sendo isso e aquilo, na verdade o que eu sempre procurava era chegar nisso aqui. Isso é o resultado de um longo trabalho, embora tenha sido escrito de uma forma muito rápida. Foi escrito em dois meses e meio, e talvez porque a demanda já estivesse muito represada, entendeu?

Over Shock (Ricardo Biazotto)Para encerrar, gostaria que você comentasse sobre seus futuros projetos na literatura, na música.
Cadão – Na música eu não tenho mais projetos. Acho que encerrei minha carreira, tenho essa impressão. Nunca se sabe, porque ao longo do tempo eu fiz algumas coisas assim, mas a música pra mim tem um interesse hoje secundário, não sei por que também. Não sei por que a indústria derreteu ou não, a indústria musical, mas na literatura eu já escrevi um novo livro, que é completamente diferente desse aqui, é um livro que conta uma aventura diferente.
É a história de um amigo, com quem eu compunha no Fellini e tal, que foi morar em Londres, trabalhar na BBC, e ele um dia chegou em São Paulo com a ideia de fazer uma stand-up comedy, uma comédia stand-up (risos). Eu fiquei muito impressionado com essa história, que eu escrevi uma novela contando a história desse cara ficcionalizado, evidentemente, porque é uma ficção não é um romance-verdade, mas muito inspirada na história, na trajetória dele, e tangencialmente, contando um pouco da minha trajetória como músico nos anos 80, por tabela.
Então é essa a história: um cara que vai stand-up, que é uma coisa pra mim extraordinária, eu nunca vi um stand-up ao vivo, não sei como é, mas eu não gostaria de ver, porque eu não gosto de comédia ao vivo dessa forma, acho meio chato. Comediante é uma coisa meio esquisita, porque o cara que é pago pra fazer graça é uma coisa esquisita. E eu sou do tempo de gostar do Charles Chaplin, esse tipo de comediante. Gostava de uns caras engraçados, mas nunca cheguei a pensar em stand-up, pra mim era uma coisa, imagina né...
E esse meu amigo veio com esse intuito, e o mais divertido é o seguinte: hoje ele está lá em São Paulo, estreando a stand-up dele, em um cafezinho. Ou seja: ele conseguiu realizar uma coisa, depois de todo esse tempo, basicamente ele concretizou a minha ficção, porque esse livro já está pronto, vai para a Cosac terça-feira, e o cara no sábado ele faz esse stand-up. Engraçado! Vamos ver no que vai dar, acho que vai ser legal.

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